Os fatos, a contradição e o complexo jogo político no taekwondo brasileiro
Artigo Publicado em 26/08/2012, as 13:00hs.
Por José Afonso
Quem tem acompanhado as notícias subsequentes às Olimpíadas de Londres/2012, entre os novos discursos por conta deste Ciclo Olímpico que se inicia em função dos Jogos do Rio/2016, percebe que, entre o visível desapontamento do Ministro dos Esportes (Vídeo) com as medalhas que não vieram e a incômoda posição do COB, sintetizada na irritação do seu principal dirigente, Arthur Nuzman (Vídeo), o modus operandis da cartolagem esportiva brasileira vai ter de mudar a partir de agora.
Nuzman chega a ser enfático ao citar como um dos problemas as “brigas políticas” dentro das entidades que controlam as modalidades olímpicas.
O taekwondo olímpico brasileiro não foge a regra!!!
A malfadada, infeliz e desastrada AGE de Novembro de 2011, ao atender os caprichos políticos do atual Gestor Provisório em exercício da CBTKD, sistematizou a falta de limites dos nossos cartolas e serve como marco de uma “briga política” sem precedentes que emperrou o pleito eleitoral em curso quando parecia navegar em águas calmas e previsíveis.
O pior, e para deixar Carlos Nuzman mais irado, foi o Edital de Convocação desta AGE, é claro. Lá estava escrito que era para atender exigências do COB! E assim estava: "...conforme prévia determinação e homologação do Comitê Oliímpico Brasileiro - COB;"
E ai surge algo bem sugestivo: Ou o COB costuma se meter nos assuntos internos das entidades, protegendo dirigentes de modo a restringir possíveis concorrentes, como comprova o Edital de Convocação de tal AGE, ou o atual Gestor Provisório em exercício da CBTKD usou o nome do COB em vão.
De qualquer forma, ISTO MERECE UMA EXPLICAÇÃO. Visto que há, pelo menos, duas linhas de entendimento nesta manobra política:
- Se confirmado que o COB, ingeriu efetivamente determinando as questionáveis mudanças estatutárias, favorecendo evidentemente os interesses políticos do atual Gestor Provisório em exercício da CBTKD, em tese, há prova de que a autoridade nacional olímpica interfere e contribui para as “brigas políticas” dentro das entidades. Com isto os argumentos do Sr. Arthur Nuzman, não se sustentam.
- Do contrário, confirmando-se que o COB não interfere nos “assuntos internos” da CBTKD, em tese, tudo fica sob suspeição, já que não se sustentando as razões da convocação publicada no Edital em questão, ou seja: não sendo "...conforme prévia determinação e homologação do COB", tudo mais perde sustentação legal. Neste caso, a AGE, inclusive o novo Estatuto Social aprovado em Nov/2011, perdem seu valor legal.
O assunto é instigante e foi amplamente discutido em outros artigos no decorrer deste tempo, conforme lista abaixo:
Em 24/02/2012 - Análise do Estatuto da CBTKD - Uma contribuição ao debate
Em 01/03/2012 - Sucessão presidencial já começou
Em 08/04/2012 - De tanto querer, muito a perder
Em 13/07/2012 - Estatuto da CBTKD inviabiliza o Processo Eleitoral!!!
Em 17/08/2012 - Sucessão na CBTKD na ordem do dia
Em 26/08/2012 - A vida anda ruim na aldeia...
Ainda assim, neste processo de depuração para um melhor momento gerencial do esporte olímpico brasileiro, é fato que a CBTKD deu sua contribuição ao se envolver em outro conflito político por conta de uma AGE que mudou, muito convenientemente, o seu Estatuto Social, criando entraves e embaraços, principalmente aos possíveis críticos ou concorrentes, agregando assim, um fator determinante ao processo sucessório que está em curso, já que no final do próximo mês (Set/2012), encerra-se o prazo de 180 dias para as inscrições das Chapas para a Eleição que só ocorrerá em Março/2013.
O que o taekwondo nacional ganha com estas restrições?
Nada!!! A não ser seu maior interessado, o atual Gestor Provisório em exercício da CBTKD.
Entende-se que do ponto de vista da Democracia e do Estado de Direito no qual nos inserimos é preciso razões consistentes para restringir o direito e a legitimidade das demais lideranças de se apresentarem ao desafio de também poderem organizar o taekwondo nacional e a gestão da modalidade com um olhar em 2016.
Não faz muito tempo que o coletivo taekwondista se viu num debate interessante, quando o Site TkdNews publicou uma pesquisa bem interessante, onde destacava “outras” possibilidades para o atual desafio, entre eles: Marcelino Soares (MG), Yeo Jun Kim (FETESP/SP), Fábio Goulart (ex CBTKD/SP), Yong Min Kim (ex CBTKD/RJ), Yeo Jin Kim (LNT/SP), Marcelo Rezende (Arbitro Internacional/RJ), Juliano Tomé (ex CBTKD/SC), Carlos Negrão (SP) e depois de Londres, Diogo Silva, entre outros que poderiam perfeitamente tentar a sorte, no voto, para desempenhar tal função.
Afinal, restringir por quê? Quem garante que o atual Gestor Provisório em exercício da CBTKD é o melhor nome?
Se os presidentes de federações, que deram aval para tal artimanha política, estão indiferentes às possíveis consequências, fazer o quê?
Ainda assim, considerando que o comando da entidade nacional, bem como alguns presidentes que formam a “Base Aliada”, devem se reunir no final deste mês (01/Set/12) em Porto Seguro/BA, por ocasião do Campeonato Brasileiro Adulto e Master de Taekwondo, possivelmente para discutir e chancelar a Chapa da Situação com Carlos Fernandes/Eduardo Guerra (os dois; dirigente e sucessor, respectivamente, da Federação do Rio de Janeiro recentemente desfederada). E mesmo que não seja exatamente esta, a pauta do encontro, seria bom que aproveitasse a oportunidade para avaliar as consequências da imprudência política ocasionada a partir da AGE que mudou o Estatuto Social da CBTKD em Novembro passado.
Caso contrário, alguém vai pagar a conta; tomara que não seja o coletivo taekwondista envolvido “novamente/de novo” em outro período de imbróglios judiciais, tensão política, perseguições, incertezas e baixo rendimento no esporte, marca registrada do atual mandato.
Não há como ficar indiferente, somos todos responsáveis e os que não são, são vítimas.
*O Autor José Afonso é faixa preta, professor, praticante de taekwondo e ativista no taekwondo brasileiro.
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